25.12.08

Meu amigo lindo e gostoso e excelente músico Makely Ka tá vindo de BH se apresentar no Rio e eu vou e recomendo, dia 29 no Centro Cultural Carioca, e dia 30 na Cinemathèque, às 21h. Partiu?!

23.12.08


O Projeto MaPa fecha o ano com muita música e poesia. A próxima edição será no dia 26 de dezembro, logo depois da passagem de Papai Noel, a partir das 21h, no Cinematheque, em Botafogo. Nesta próxima edição, o projeto conta com as interferências das poetas do Madame Kaos, do humorista e diretor Fernando Ceylão e da banda Vulgue Tostoi, que apresenta músicas de seu segundo CD. A edição comemora ainda o primeiro ano do MaPa!
No blog do projeto (www.projetomapa.blogspot.com), fotos e o depoimento de quem pisou no palco do Cinematheque na temporada 2008.
Feliz Natal e um ótimo 2009!
MaPa!

16.12.08

A LAGARTA

As horas longe de você se arrastam como lagartas verdes e peludas deslizando vagarosamente pelo tronco áspero de uma árvore solitária plantada no topo de uma montanha, onde o vento uiva sussurrando seu nome no meu ouvido. Não me alegro quando os pássaros vêm cantar na minha janela. Nem me entristeço ouvindo um negro cantando blues. Não tenho vontade de me embriagar e cantar desafinada e exageradamente um Cazuza no bar. Não tenho sono de dormir em cama que não seja a tua. Não tenho fome que não seja do teu nome. Não tenho sede que não seja do teu cheiro. Sinto falta do teu travesseiro entre as minhas pernas. Dos teus cabelos entre os meus dedos. Dos nossos segredos contados no olhar. Gosto de acordar no meio da noite e velar teu sono. Ouvir tua respiração com o interesse de uma criança pra quem a mãe vem contar histórias ou uma canção de ninar. E depois tornar a dormir, pra logo acordar. Mas as horas passam e eu não tenho sono e eu me pergunto se você dorme por aí. Se você se embriaga e canta Cazuza no bar. Se você se alegra ou se entristece com um pássaro ou um blues. Ou se a lagarta verde também te ronda, peluda, áspera e vagarosa. Se ela te assombra com o passar das horas. Se ela te visitasse eu teria certeza que eu poderia te amar. Que eu poderia deslizar vagarosamente pelo teu corpo, chegar ao topo, soprar o vento, sussurrar gemidos, uivar teu nome no teu ouvido. Você pode até deixar a lagarta na cama dormindo enquanto sai pra tomar uma vodka entre sorrisos de desesperada euforia. E se embriagar, e cantar um blues, imitar um pássaro, e voar... Mas se quando você voltar, a lagarta ainda estiver lá, bota ela pra fora, e me põe na tua cama, que é o meu lugar.

9.12.08

NOSSA MELHOR INFÂNCIA

para Fernando Blauth Klipel


Em maternidades distantes num longínquo 81,
nascemos irmãos numa só alma.
Destinos traçados nas palmas de mãos vazias,
que aprendemos a ocupar de copos e cigarros por não ter o que segurar.
Mãos das quais tudo insiste em escapar...
Mãos em que as linhas das vidas divididas se assemelham a cicatrizes antigas,
já rasas e quase apagadas, mas ainda lá, marcadas.
Temos esse sinal de nascença.
Essa mania de entrar no mundo sem pedir licença
e nunca sentir-se em casa em nenhum lugar.
Encontrar sua mão na minha é como regressar ao lar que nunca me foi abrigo,
e as memórias da infância que não tivemos são minha única realidade possível.
Nossa casa na árvore, para onde fugíamos quando tínhamos medo de algum perigo.
Passávamos dias e dias escondidos debaixo da cama pra jogar Resta Um,
e quando restava uma peça no tabuleiro, saíamos pra comemorar.
Corríamos por horas a fio só pra sentir o vento no rosto.
E nos dias de temporal, a gente corria pra fora de casa e se deixava inundar.
Nos dias de sol, era pedrinha no riacho e picolé na carrocinha do seu Chico.
Um dia a gente mascou tanto bubaloo, mas tanto, que ficou com dor nas mandíbulas,
e a gente queria rir e doía, e a gente ria, e ria, e ria...
A gente comia banda e bala juquinha, e uma vez você se engasgou numa bala soft que foi um deus nos acuda!
Foi a primeira vez que tive medo.
Eu queria dissolver a bala na tua garganta.
Dissolver do mundo tudo o que podia te engasgar, te fazer sofrer,
tudo o que podia me afastar de você.
Quando eu fraturei o braço você foi o primeiro a assinar o meu gesso.
Eu guardei o gesso na minha caixa de cartas.
Você lembra quando a gente dizia que ia viajar?
Eu ia pro meu quarto e você pro seu, de portas fechadas, e a gente se escrevia cartas, mandava por debaixo da porta.
Às vezes as viagens duravam muito e aí batia uma saudade danada e a gente marcava de se encontrar em um ponto do universo, que era a cozinha, porque a gente adorava experimentar novas gastronomias.
Tinha um país que fazia pão com manteiga e açúcar, e era o que a gente mais gostava!
A gente nunca comeu gafanhoto, mas a gente caçava formigas, assim, com o dedão, esmagava uma a uma no chão.
E eu adorava quando você me salvava das terríveis baratas!
Você sempre foi o meu herói, o mais forte, o mais bonito, o príncipe de todo conto de fadas.
E eu gostava de ser salva, e às vezes fingia medos só pra te ver enfrentar meus perigos.
Sem querer nós matamos os peixes do aquário e o pintinho da feira de filhotes.
Enterramos no jardim com uma cerimônia muito solene, choramos como duas carpideiras incontidas, e depois esquecemos os mortos pra jogar Atari.
A gente sempre quebrava o joystick fazendo força na curva do enduro, em que entrávamos com o corpo inteiro!
Eu gostava de comer jujubas com você vendo o dia amanhecer depois de tomar coca-cola escondido a noite inteira!
E andar de bicicleta, e soltar pipa, e jogar bola, e pular pogobol e pular corda!...
No nosso mundo não havia incesto e o meu primeiro beijo foi seu,
e eu fui sua namorada e você o meu,
e o nosso casamento era cada dia em um lugar.
O primeiro escolhido foi a Lua, e eu queria entrar de vermelho que é pro povo da Terra poder me avistar.
Mas o ônibus espacial demorava a chegar...
Aí a gente resolveu casar no jardim, que já era cemitério, então podia ser igreja.
A festa seria na casa da árvore, que é onde a gente ia morar.
Mas não ia caber todo mundo lá!
Que tal então se a gente casasse no Maracanã?! Descesse de helicóptero como o Papai Noel no Natal da Xuxa?! A gente antecipava os fogos do Ano Novo, e ia ser o grande acontecimento do ano! Ia passar na Retrospectiva 94 e ninguém nem ia lembrar da morte do Senna.
Droga, não queria lembrar do Senna, mortes me deprimem!
Prefiro planejar o nosso filho, a cor dos meus olhos com o seu brilho, um nome de anjo, com cara de diabinho, que vai herdar nossa casa na árvore, nosso Atari e todos os outros brinquedos!
Nosso primeiro filho veio no Jogo da Vida, nossa primeira casa e mais toda a rede de hotéis a gente comprou no Banco Imobiliário, mas bom mesmo era ganhar o mundo inteiro no War, que entrava madrugada adentro e a gente nunca se cansava...
A nossa vida inteira a gente foi ganhando como um jogo, montando as peças como um quebra-cabeças que faz surgir uma tela que a gente pintou, nosso jogo da memória inventada.
São as melhores lembranças que eu tenho da nossa infância.
Não você, meu pequeno anjo amoral perdido num céu de estrelas fluorescentes coladas no teto de um quarto vazio.
Não eu, sua pequena infernal, trancada no banheiro pra chorar escondida a solidão inevitável de uma estrela caída.
Nós dois, crianças de um mundo onde não há infância,
escondidos na dor do riso com o mesmo olhar de espanto.
E de repente, depois de tanto pranto, de tanta coisa, de tanta gente,
de toda essa infância perdida,
nossos olhares se cruzam numa esquina da vida.
E mergulhar nos seus olhos é como recordar tudo isso!
Lembrar tudo o que foi (que é tudo o que podia ter sido).
Voltar ao lar que nunca me foi abrigo e finalmente me sentir em casa,
que toda a dor da nossa vida foi uma bala soft agarrada na garganta e um braço quebrado, com um cafuné pelo susto e um gesso assinado de lembrança.
Talvez seja tarde para um pedido, talvez você já tenha desistido,
mas eu não mudei nossos planos.
(eu até guardei meu vestido vermelho)
Vamos pegar carona no próximo foguete
e você casa na Lua comigo?
(quero a cor dos meus olhos com o seu brilho,
quero amar nosso filho)

AMOR PORCO-ESPINHO

para Fernando Blauth Klipel

não sei amar
nunca aprendi a amar
não sei...
acho que descobri o amor ainda pequeno
amei um porco-espinho
precisava cuidado pra amar
o amor demais, apertado,
te entra no corpo como uma farpa, uma flecha
um espinho que não se desencrava
daí percebi que amar doía
desaprendi a acariciar
sempre acho que a mão que desprende carinho
pode afundar-se em espinhos
tenho medo de amar.
Do útero não lembro nada.
Tenho uma fantasia
Um ponto luminoso que quica de parede em parede
e de repente
te cai no mar.
Da minha casa tenho as referências
Do bonito do inteligente
Do como devo ser e não sou.
Escolho ser educado, um gentleman!
Agradável, doce no falar
E carente no olhar.
Tenho um desejo escondido.
Voar nas costas de uma borboleta.
Sentir o vento no rosto
E nunca ter um objetivo certo,
Um porto-destino.
Queria mesmo era recolher a âncora,
rasgar o peito
Ver todo meu pranto vermelho derramado,
e nele sim,
levantar as velas.
E me ser eu, eu pra ti
sem pensar, sem ponderar
gestos nem navalhas.
Mostrar meu corte ainda aberto
E não deixar secar minha lágrima.
Queria ser carregado pela mão,
não pr’um campo verde.
Mas, pro meio de um turbilhão
E lá no centro te pegar pela mão
e rodopiar.
Brincar de ser eu o teu dono.
De ser eu a borboleta.

Eu disse não ser mas talvez seja
talvez eu não me perceba
que no sonho a voar nas asas de uma borboleta
seja eu o pássaro a voar mais alto
o que não se sabe
que caiu do ninho
ainda pequenino, e agora sempre sozinho
asas quebradas, ferida aberta
sem saber que ainda é canto
o que meu chorar
que é sempre canto
o meu lamento
que eu canto e vôo, passarinho
mas penso que passo, no meu canto, sozinho,
sem que ninguém me perceba passar

Fernando Klipel e Beatriz Provasi

6.12.08

Dar arte de dar nós; Da arte de nos dar

(poema coletivo escrito em mesa de bar)

O desejo latente, latejante
de amar em um momento constante
Amar em todos os momentos,
como se ama no sacrifício, na luta.
Até o momento em que amar
não seja mais sacrifício.
Até o momento que sentir
seja uma simples golada de prazer
à presença do amor.
Assim sinto bater como um coração
nossos pés no chão
e cada corpo que se atrai
que se entrelaça
na nossa pequena íntima multidão.
Me sinto distante...
ora perto, ora longe
do prazer que me satisfaz
Da força que não sabemos de onde vem
mas que nos pega e nos arrasta
Nos leva pra longe, distante
imenso, cativante
De onde nada tem
de onde tudo nasceu
Descubro você. A sorte de amar.
Assim mato a saudade, sedenta de você, numa mesa de bar.
E entre as garrafas de nossos antigos carnavais
descubro teus olhos, que me fitam nessa vida afora
Dentro fora, Dentro fora, Dentro fora, Deeeeeentro...
Tempo afora como agora
E o amanhã que nunca acaba.
E acaba, propõe o recomeço, a ré – a marcha ré, do inconsciente passo que me pedes pra dar. E sem falar, e sem ouvir, eu sigo, errante entre um gole e um abraço. Te tenho em meus braços, vos tenho em meus braços.
Braços já cansados de não segurar, tiram forças do desejo de seguir em frente com vocês, da exaustão. Não suporto, desta vez, ter que soltar, desta vez seguir errante.
Não temo cara feia, mas peço, esta cara tem que me abraçar, amanhã ou depois.
Respirar com todos, este é meu
Devir.
Meu dever de tornar possível cada momento ao seu lado. Como se fosse único, como se fosse inexplicável, como se fôssemos um só, e que nada mais existisse, apenas nós, como o ser mais perfeito do mundo.
Nós todos apertados
Nós. Todos sem querer apartar.
Sempre nós, laços
das fitas mais coloridas
que enchem nossos olhos
que inflam nossos peitos
que são a nossa voz
cantando juntos
uma só voz
de uma só vez, toda vez,
várias vezes
sempre
AMO VOCÊS
NÓS
(nunca mais sós)
E agora, passo.
Posso repetir em voz alta,
sussurrada pra ninguém que não sejamos.
Sempre Nós!


Turma do 2º semestre de 2008 – Artes Cênicas/UNIRIO, vulgo “O Fruto Proibido”
Escrito por Aline Vargas, Beatriz Provasi, Bel Flaksman, Daniel Galvão, Diogo Diniz, Fernando Klipel, Gunnar Borges, Gustavo Almeida, Marília Nunes, Nilson Nunes, Rany Carneiro, Renato De Sena, Rodrigo Abreu, Tatiane Santoro, Vanessa Reis e Wesley May. Participação especial de Rafael Medeiros e Vitória Hadba, amigos d’A Boemia.