30.8.08

Ama a arte em você mesmo
e não você mesmo na arte.
(Stanislavski)

29.8.08

eleições 2008 - parte 3: política poética

Então disse o sol:
"Bem, cá estamos, meu velho.
Tu e eu formamos uma dupla.
Voemos, poeta,
à altura das águias.
Cantemos
para espantar as trevas do mundo."
(Maiakóvski)

eleições 2008 - parte 2: poluição sonora

quem é de niterói certamente já ouviu:
- o assovio enjoado do jorge roberto silveira
- a musiquinha brega acompanhada do gritinho agudo insuportável do issa
por isso eu lanço a campanha: vote contra a poluição sonora! não eleja esses candidatos! meus ouvidos agradecem.

26.8.08

porque agora eu sou caloura...


ps. o luau foi adiado pra próxima semana, por causa da previsão de chuva.

eleições 2008 - parte 1: tomate neles!

"Enquanto os homens exercem seus podres poderes,
morrer e matar de fome de raiva e de sede
são tantas vezes gestos naturais"
(Caetano Veloso)



Ia usar uma metáfora de tomates e de repente me lembrei de Ilha das Flores. Ilha das Flores foi um dos primeiros filmes dos mais impactantes que vi na vida. Como a partir de um tomate, Jorge Furtado descreve uma situação social tão absurdamente contrastante!? Um tomate é considerado impróprio para o molho da dona de casa, é considerado impróprio para a alimentação dos porcos e só então é posto à disposição de seres humanos em situação de miséria, que catam comida no lixo. Diante disso, fiquei pensando, como sugerir que as pessoas escolham seus representantes como escolhem tomates para o molho, num país em que muitos catam tomates no lixo para sobreviver?! Como dizer ao faminto que não coma tomates podres? Como sugerir ao miserável que não venda seu voto para políticos podres? É certo que não são só os miseráveis que vendem votos, mas toda a espécie de descrentes que vêem ali a possibilidade de ganhar uma graninha extra e não acreditam que o voto possa mudar a situação do país e consequentemente melhorar a sua. Mas num país que não valoriza a educação, é realmente difícil fazer essa associação. Quando estive em Canudos/BA, ouvi pessoas conversando abertamente sobre para quem venderiam seus votos. É uma coisa tão naturalizada, que não há porque não falar. Também creio que deva ser assim nas periferias das grandes cidades. Algumas negociações mais explícitas, com pagamento em dinheiro, e outras mais veladas, com bens de consumo, materiais, obras ou melhorias pontuais em determinadas comunidades. Tem hora que quase me bate um desânimo. Me parece que participar de um processo eleitoral assim é também legitimá-lo. Mas também não acredito em voto nulo, a não ser na total falta de opção. Já elegi vereadores, deputados e senadores éticos que permanecem na luta ao lado do povo brasileiro mesmo dentro de um sistema corrompido em que isolados pouco podem fazer. Já elegi até um presidente que, apesar dos pesares, trouxe alguma melhoria em comparação ao governo anterior. Por isso não desisto de fazer uso do voto. É uma das armas de que dispomos pra transformar a realidade. Por isso, apesar de saber que muitos vão comprar e muitos vão vender, que muitos vão dar acreditando em promessas falsas, que muitos vão dar sem acreditar em nada, e que muitos filhos da puta ainda vão se eleger, eu voto e prego o voto consciente. Que a gente vote como quem escolhe tomates, pegando os bons e largando os podres de lado. E se por acaso tivermos de catar tomates podres, que seja pra tacar nessa gente que perpetua a miséria e a ignorância do povo! Porque, como disse antes, o voto é uma das armas de que dispomos. Um tomate pode ser outra. E ainda outra uma manifestação. Um poema, uma palavra, uma ação. Também não adianta votar e achar que cidadania se exerce só de quatro em quatro anos. Cidadania é um exercício do dia-a-dia. É cada um fazer a sua parte nos espaços que lhe cabem, e cobrar a ação dos que elegemos para os espaços de representação. Não deixar lixo na praia é uma ação de cidadania, assim com dizer “bom dia”. Lutar contra a corrupção é também não se deixar corromper nos pequenos espaços de poder, que podem estar no ambiente de trabalho ou até na família. A construção de um país melhor não se faz só em dia de eleição, se faz todo dia. Antes de selecionar os tomates, é preciso plantá-los, cultivá-los, colhê-los. É preciso cultura, no sentido original do termo. CULTURA POLÍTICA. Então, mãos à obra! E depois eu escrevo sobre os meus candidatos... (que era o motivo original deste texto)

20.8.08

"Toda poesia é uma viagem ao desconhecido" (Maiakóvski)

Voluntários da Pátria - Maceió/AL


Na campanha Voluntários pela Valorização da Vida - VVV

FOI TUDO LINDO E SEM EXPLICAÇÃO!!!
FOI TUDO LOUCO!
FOI TUDO DE BOM!...

Tavinho Paes conquistou as crianças.


Edu Planchêz vagou pelas madrugadas fotografando placas.


Glad Azevedo fez serenata pra televisão.

Betina e Tico foram coroados.



Eu subi mais um degrau no imenso bule borbulhante dos Voluntários.

E o futuro, a quem pertence? Eles são nosso presente!


VOLUNTÁRIOS EM AÇÃO!

Mais fotos em http://picasaweb.google.com.br/beatrizprovasi

15.8.08

tô num computador muito louco bloqueado pra blogues! o curioso é que acessando do meu e-mail eu consigo entrar pra moderar comentários, consigo criar postagens, mas não posso escrever comentários, nem editar postagens antigas, vai entender a lógica dessa coisa... aí só de sacanagem resolvi criar postagem pra mostrar pra essa máquina idiota que eu consigo entrar pelas suas frestas...! é só deixar um espacinho aberto que eu pulo pra dentro que nem gato safado e vou afiar as unhas no seu sofá!...
mudando de assunto.
tenho recebido convites pra diagramar material de campanha. cheguei à conclusão de que mais que os governos, as eleições geram empregos! quem sabe com essa graninha extra que vai entrar consigo pagar minhas multas de trânsito... (quer dizer, o mesmo sistema que dá, toma de volta, é a lei cíclica do trabalho, vc trabalha pra se manter trabalhando - se alimentar, morar, vestir, se locomover... e aí não tem tempo pra mais nada, só pra trabalhar! um dia ainda largo tudo e vou plantar alfaces em mauá!... - mentiraaaaaa)
cansei disso aqui. não tenho mais nada pra falar. nem gosto de usar essa coisa pra falar da vida. mas sabe como é, falta do que fazer no horário de trabalho dá nisso... horário de trabalho me parece um termo tão idiota! quando se faz o que se gosta, se trabalha o tempo inteiro (eu, por exemplo, decoro poemas debaixo do chuveiro!...)
bom, beijos pra quem fica. au revoir...

14.8.08

flash



apesar das noites em claro e das olheiras, das lágrimas, dos olhares de medo, dos beijos não dados, amores negados, dos sonhos roubados, apesar da vida e da morte, e de toda a angústia do inexplicável, apesar da falta de respostas, e das perguntas caladas formando nódulos na garganta, apesar de. ainda encontro delicadeza em mim. como sorrir de olhos fechados. e quando me sinto assim, sei que posso ser feliz pra sempre (mesmo que seja só no tempo de um flash).



fotos: Maysa Britto

13.8.08

Amor, então,
também acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou em rima.

Paulo Leminski

12.8.08

INSISTA

Fabrício Carpinejar

Sempre insista. Fale mais do que seja possível pensar. Insista. Toda primeira conversa enfrentará uma série de inconvenientes. Mas insista. Não recue com a gafe, com o estardalhaço, com a vergonha. Siga adiante. Comece a rir sozinha. "o que você está rindo?" Rir é ser perguntado. Não há motivo para rir, rir é se abraçar. Minha risada é meu gemido público. Acordar me deixa excitado.

Talvez aquela amiga não queira namorá-lo para não estragar a amizade. Portanto, diga: quero hoje estragar nossa amizade. Estragar de jeito. Arruinar nossa amizade. Corromper nossa amizade.

Estrague fundo, o amor pode estar recolhido nela. Mas não aceite tão rápido o que ela não acredita. É disfarce, vivemos disfarçados de normalzinho, de ponderado, de retraído, porque a verdade quando surge faz atitudes impensadas, como comer algodão-doce nesta terça-feira diante de uma escola de normalistas. Que saudades de acenar para uma freira dirigindo um fusca. Deus é uma freira dirigindo um fusca. Tenho saudades de me exibir cortando laranjas. As tiras simétricas, os cabelos loiros da laranjeira. Tenho saudade de passear com a minha laranjeira.

Não se explique, insista. Eu não vou ficar esperando alguém me salvar. Eu mesmo me salvo. Eu mesmo me arrumo para a loucura.

Insista. O apaixonado cria sua boca. Cria sua boca para cada boca. Caso tenha prometido ir atrás dele, vá. Telefone, ainda que atrasada dois anos da promessa. Volte atrás, não queria pensar com os olhos, a boca são olhos mais atentos.

Não se intimide ao encontrar seu homem no momento errado. É sempre o momento errado. Seja o momento errado da vida dele. Mas seja parte da vida dele.

Seja o erro mais contundente da vida dele. Seja a vida do seu erro, para ele errar mais seguido.

Talvez aquele amigo não converse para manter a aparência de misterioso. Talvez ele nem saiba conversar, seja incompetente. Insista. Uma hora ele vai tomar um porre do seu silêncio, sentar no meio-fio e falar aramaico. Todo homem guardado uma hora fala aramaico. Insista, esteja perto para o sermão dos pássaros no viaduto.

A vida mete medo quando ela não é formalidade, não temos como nos defender do que parte dos dentes. Tenha um medo assombroso da vida, que é mais justo, deixe a morte com ciúme e inveja, deixe a morte sem dançar.

Não fique articulando frases inteligentes, comoventes, certas. Insista. Sei o valor de uma fantasia, mas insista. Tropeçar ainda é andar, pedir desculpa ainda é avançar, concentre-se na dispersão.

Ninguém quer falar com ninguém. Mas insista. Na sala do dentista, no trem, no ônibus, no elevador. Insista. O que mais precisamos é estranheza para reencontrar a intimidade. Não há nada íntimo que não tenha sido estranho um dia. Seja estranho com o ascensorista, com o porteiro do prédio, com a colega. Declare-se apaixonado antecipadamente. Depois encontre um jeito de pagar. Ame por empréstimo. Ame devendo. Ame falindo.

Mas não crie arrependimentos por aquilo que não foi feito. Sejamos mais reais em nossas dores.

Tudo o que não aconteceu é perfeito. Dê chance para a imperfeição. Insista.

Estou cansado de me defender - sou só ataque. Insisto.

11.8.08

tudo no meu tempo

força estranha que de prédio novo faz ruína
o que nasce já fica velho e nem se cria
furto verde que despenca amolecido
não há tempo de amadurecimento
o rápido engole o lento
eu engulo a seco o tempo
sou passado sem ter tido a opção do futuro
me publico sem passar a limpo o meu rascunho
cheia de erros crassos, toda em desacordo
mas vazo dos limites do quadrado
em meio ao dia quando acordo
porque meu tempo é sempre
e muito
tem milhões de quadros meu segundo
minha linha é curva
e meu olhar, enviesado
atravesso o mundo fora da faixa
no meu passo lento
sinto a dor, ossos quebrados, fratura exposta
e não tenho medo não fujo nem rezo
eu enfrento o atropelamento
(o resto é que é perda de tempo)

Nome próprio.


Nome impróprio. Fui ao cinema sozinha, e como poderia deixar de ser?! Dei graças por terem recusado o meu convite. É um filme impróprio pra ser ver em companhia. Porque eu me via na tela e não queria que ninguém me visse me vendo. Que sentisse os momentos em que a minha respiração esteve em suspenso, ou quando ofegou, ou quando meu corpo se colou à cadeira e meus olhos vidrados na tela quase indagavam alto: como podem me pôr nua assim?!? Eu me via espelhada nos olhos da Leandra Leal, da sua Camila, como jamais havia. E quanto mais eu me espantava, mais eu me dizia: é um filme pra se ver sozinha. Não que a vida da Camila se assemelhe tanto à minha, não é isso. É seu modo de lidar com a escrita. O modo como nela se confundem arte e vida. O quanto que essa coisa de escrever é terapia. Como compulsivamente esfregar um chão que não se limpa. Queria escrever um poema e não consigo. Nome próprio já é pura poesia! E eu agora impregnada de poesia por todos os poros, saltando dos olhos, formando um eco sem fim nos meus ouvidos... Fazer poema, eu não consigo. Aí paro num bar da Lapa, esquina da Mem de Sá com Lavradio. Peço um chopp, dois, talvez ainda peça o terceiro ou quarto, até terminar de rabiscar essas linhas, ou esgotar a tinta da caneta, acabar o guardanapo... Niterói hoje era longe demais pra conter a ânsia da escrita. Precisava desse desgovernamento, parar pra respirar o ar que tinha inundado meus pulmões na sala de cinema. Não queria ter ninguém ao lado agora para debater o tema, não vale a pena. Precisava ver nesse guardanapo os guardanapos de Camila; ver nas lágrimas de Camila as minhas, as mesmas que há pouco mais de um mês eu largava no carro na corrida... (Corria de quem? Dele? De mim?) Na covardia de Daniel as mesmas mentiras, mesmas falsas promessas que eu criava, em que eu cria... Eu já me larguei no mar de Camila... já me larguei no copo de Camila... já me larguei queimada nas cinzas do cinzeiro de Camila, e me marquei por muitas das suas cicatrizes... Há um preço que se paga por querer demais a vida. A cada vez que sobrevivo, alguma coisa morre dentro. E a gente ainda espera quem nos ressuscite. Mas não é o quem. É o quê. O quem é o pretexto. O que nos salva é a escrita. O terceiro chopp já veio. Não era o ponto final ainda. Esse desgovernamento é o que governa a minha vida. Que se foda que é lei seca ou que amanhã acordo cedo! Há muito que eu não sentava no bar sozinha (e hoje nenhum mala veio me incomodar! Por que homem não pode ver mulher sozinha?!). Eu adoro estar em minha exclusiva companhia. ADORO! Eu me sinto muito mais eu porque não tenho em mim a projeção alheia. E cada um projeta no outro o que quer, isso foge ao nosso controle. Mesmo que eu me esforce pra parecer uma, aos olhos dos outros eu serei sempre outra. Sartre, sábio, categorizou: “o inferno são os outros”. Não “os outros” tal como são, mas como nos projetam/deixamos nos projetar em nós. Os outros não me interessam. Eu sou como só eu sei que sou. Só me encontro quando só. Eu queria me escrever em poesia e não consigo. Talvez porque a poesia pressuponha muito mais o leitor que essas linhas. Sei que o que escrevo vou pôr no blogue e alguém vai ler. Mas não me importa quem, nem como, nem quando nem por que. Agora só me interessa escrever. E vamos ao quarto chopp porque estou me sentindo viva. Alguma coisa pulsa na minha mão que treme. E quando escrevo assim esqueço que algum dia tive aulas de caligrafia. Aquelas letras redondinhas dão lugar a essas letras tortas que são só minhas. Tortas como eu, como os meus sentimentos, como a minha vida. Essa coisa que não se ensina. Essa sina. Escrever como quem respira. Não o ar do campo e seus encantos bucólicos. Mas o ar poluído das cidades, seu gás carbônico, sua nicotina, seu cheiro alcoólico. E se vive disso. Porque respirar é um ato involuntário de sobrevivência. (Ninguém consegue se matar por asfixia!) Ninguém escolhe o que respira. Respira porque lhe é imanente. E se lhe enfiarem éter na boca e nas narinas, é o desmaio. Ninguém foge à necessidade do corpo de inspirar. Senão é a morte. E o corpo grita mais forte: AR!... É assim que se escreve e é assim que se vive, como quem respira, como quem inspira, com o que inspira, expirar. Expirar com as mãos é o meio que o escritor encontra pra não morrer de excesso de ar. (Ou pra não pirar...) Eu vivo de loucuras momentâneas pra não morrer de cotidianos... Passem dias, meses, anos, ou segundos, primeiro e antes de tudo, eu aqui me imortalizo. No que escrevo do que vivo. E assino. Com meu nome próprio, impróprio, meus impropérios.
Beatriz Provasi, pedindo o 5º chopp, a saideira.
ps. à minha volta, os que restam no bar, todos assistem às olimpíadas na TV.
ps. 2. o garçom me trouxe a conta sem que eu lhe pedisse, larguei o bar vazio atrás de mim e vim...
ps. 3. enquanto passo a limpo os guardanapos nesta tela, encontro na geladeira minha última saideira!
ps. 4. leiam o filme, assistam ao livro.

brinco

sou do tipo que inflama a orelha
pra usar o brinco de que gosta
se eu me amo ou não?
isso não importa.
sei que o brinco é bonito
e a dor é suportável
sei que eu faço o que quero
e ninguém tem nada com isso
sei que pra minha dor
não tem remédio
mas de tédio eu não morro
sou incurável.

da arte de empinar pipas

ver uma pipa no céu
é tão mais bonito
que ter uma pipa nas mãos!
é por isso que eu atiro ao alto
tudo que tenho nas mãos...
na esperança
de ver alçar vôo.
a maioria pára no chão.
e eu resto assim:
sem a beleza das coisas no céu
sem a concretude
de coisas na mão.

9.8.08

CEP 20.000


CEP "di maior"

Agora o CEP é “di maior”. 18 anos na estrada. O que muda? Nada. O CEP já andava por aí há muito tempo com carteira falsificada. Sempre entrou onde quis, já nasceu abrindo caminho. É o irmão mais velho dos eventos de poesia. Dirigia sem carteira e já andava embriagado. Sabe como é, tem amigos na Blitz. Tem amigos nas melhores bandas, e em qualquer lugar onde sopra poesia, todo bafômetro se manda. Aqui, a caretice não tem vez. O CEP sobrevive ao açaí com guaraná, à onda do politicamente correto e das proibições, não pode beber, não pode fumar, não pode dar um dois, então passa na di um, dixava e vamo lá!... Festejar os 18 anos do CEP 20.000, na próxima terça, dia 12, a partir das 20h, no Espaço Cultural Sérgio Porto.

Na programação:
chelpa ferro / robôs efêmeros / duplex / viviane mosé
raul mourão / flu / paulo scott / simone carvalho / ctrlc+ctrlv
aimberê césar / alex hamburger / sete novos / márcio-andré / madame kaos
dudu + daniel / guga ferraz / ernesto sena / priscila andrade / bárbara araújo
brumário world circus / dado amaral / justo d’ávila / pedro lage
grupo um / grupo py / opavivará! / 13 numa noite / gomo / laranjas
associados / baile à fantasia / mc chacal

CEP 20.000 – Centro de Experimentação Poética
Espaço Cultural Sérgio Porto
(Rua Humaitá, 163 / tel : 2266 0896)
Terça, 12/08, às 20h
Ingresso: R$ 4,00

5.8.08

sobre a palavra, a santa, a puta e a navalha na cara

Outro dia, do nada, fui chamada de puta por uma mulher que eu desconhecia. Talvez porque eu tenha tido um caso com o marido de uma amiga dela. Sobre isso, tenho a consciência muito tranqüila. Eu tenho a minha ética pessoal, que sigo com correção, e nela não há lugar pra culpa ou autoflagelação. Pois bem, não fui eu que dei em cima dele, não o forcei a nada, apenas cedi à tentação, não era amiga da mulher, e nunca me aproximei a tal ponto (homem de amiga eu respeito, elas sabem disso e não têm com o que se preocupar). Depois eu me apaixonei e deixei isso claro, porque a situação me incomodava, e ele manteve a relação, alimentando em mim esperanças que eu, como uma mulher inteligente, nunca devia ter tido, mas a paixão emburrece até os seres mais geniais! Também não poso de santa não, eu sabia que podia magoar alguém (especialmente a mim, que fui a única a sair realmente perdendo dessa relação). Eu o quis, e o quis muito, e ninguém tem nada com isso!
Quando, no meio de um show, aquela mulher veio me chamar de puta, fiquei perplexa e sem reação. A mulher ainda me deu uns tapinhas de leve no rosto, enquanto dizia “você é uma puta, vagabunda”, querendo arrumar confusão. Eu odeio barraco, odeio baixaria. Ignorei a mulher e fiquei lá curtindo o som. Ao fim do show, Tavinho Paes me chama ao palco pra falar um poema. Era show do Arnaldo Brandão e Tavinho falou um texto muito foda no meio, e quando terminou, o público em peso gritava “poeta! poeta!”, para que ele retornasse. Um parêntese: muito foda isso, né?! um público que não é de poesia berrando “poeta!” Em vez de falar outro poema dele, Tavinho me chama, e quando eu subo ao palco, a descontrolada desclassificada começa a gritar “puta, puta!” Então, eu vou falar um poema praquela pessoa que tá gritando ali, e mando:

a santa e a puta me habitam

na casa que sou
ora mosteiro
ora pardieiro
pouco bate a luz do sol
tenho hábitos noturnos
e hábitos de freira
hábitos me vestem de negro
coabitam na vastidão do escuro
ora clausura, convento
ora vento, raio, tufão
ora sussurro de palavras, oração
e o verbo se solta, o sangue ferve, vira verve
elas sentam juntas no meu colo para tomar chá
com pedrinhas de açúcar e tilintar de colheres
há pouco o que se falar
são mulheres
outras vêm brincar no jardim dos meus cabelos
são ainda crianças a me fazer tranças embutidas
uma me faz cócegas nos pés
só para eu dar risada sem motivo
todas moram em mim
as pequenas dormem cedo
a santa reza antes de deitar
a puta se deita acordada
há pouco o que se falar
todas têm medo
do escuro, de deus, do desassossego
todas rezam na hora do aperto
e guardam, sempre, a navalha entre os dedos

Nunca senti as palavras em mim tomarem tanta força! No último verso, eu dei a navalhada na cara da mulher. Eu senti e tenho certeza que ela também sentiu. Enquanto ela gritava, o público pedia que ela se calasse, e ao final fui super aplaudida, de gente vir me cumprimentar depois e tudo mais. Sai de lá vitoriosa, feliz por ser poeta, e ter nas palavras os tapas que eu não dou com as próprias mãos.

Ainda por cima acho de um machismo nojento xingar de puta a mulher que se envolve com homem casado. Primeiro, é um erro crasso, porque ela não cobra, mas dá de graça (às vezes até paga o motel...). Segundo, quem tem o compromisso e a responsabilidade por ser ou não fiel à relação que estabeleceu, nesse caso, é o homem. E por mais que ele queira posar de santinho (não digo que foi o meu caso, não faço nem idéia do que ele disse à esposa), e vá dizer que a mulher praticamente o agarrou ou outras mentiras que os homens inventam (sim, porque em geral inventam), mulher nenhuma consegue estuprar um cara (a não ser com cenoura ou cabo de vassoura), ainda mais repetidas vezes, que é o que se requer para o estabelecimento de um “caso”.

Mas vamos deixar pra lá, que tudo isso é caso encerrado, e quem merecia já recebeu sua navalhada, só queria mesmo comentar como naquela noite senti o poder das bem ditas palavras.

Madame Kaos, Fausto, CEP e Bortolotto

Gente, não vou nem reproduzir porque não vale a pena, mas achei hilária a nota que saiu ontem no JB sobre a nossa apresentação da Madame Kaos com o Fausto Fawcett e a Orquestra Charles Bronson! O cara (ou mulher, sei lá quem escreveu aquilo) só faltou dizer que a gente fez uma suruba no camarim... e não tinha nada a ver! Disse algo assim, que o clima foi esquentando enquanto "as cervejas REBOLAVAM goela abaixo", gente, alguém já viu cerveja rebolar?!?! Muito tosco! Deve ser porque eles acham que se tem Fausto no meio tem que ter louras rebolando... aí na falta das louras, já que nós somos morenas, resolveu inventar outra loura pra rebolar! A Cerveja!!! só rindo mesmo. ( a gente até brincou com a coisa das louras no palco, entrando de perucas na hora da Kátia Flávia, mas em tom de brincadeira com o senso comum, porque é o que todo mundo espera) Aí depois a nota diz que nós, as meninas, "abraçadas", falamos "versos safados" no ouvido do Fausto. Porra, se decide, né, meu irmão, ou somos lésbicas ou oferecidas! O cara (ou mulher) usou várias palavrinhas pra criar um clima de erotismo que, na real, não tinha. Tinha a gente tomando cerveja com o Fausto, batendo papo e se divertindo, enquanto os meninos da banda estavam lá todos tensos com a apresentação, e a produção meio histérica, como todas as produções. E os "versos safados" nem são nossos, são do Mário Bortolotto, porque antes, no bar, quando a gente foi buscar cerveja, eu tinha comentado com o Fausto desse poema, e quando voltávamos ao camarim, lembrei que o livro estava no meu carro e peguei pra mostrar pra ele. Peguei o livro pra ler e Juju se juntou a mim, lemos juntas, nem "abraçadinhas" nem "falando no ouvidinho". Mas o que se esperar de uma coluna social, não é mesmo?! Nego adora apimentar as coisas... Em vez de falar da apresentação, fica inventando buxixo de camarim, e tudo fora de contexto! Mas na real, eu nem fiquei puta, não. Achei foi pra lá de engraçado! Meu dia ontem tava bem desanimado e isso me arrancou umas boas risadas... E pra quem quiser saber o que é Madame Kaos extra fuxico de jornal B, a gente vai se apresentar no próximo CEP 20.000, que comemora 18 anos, na próxima terça, dia 12, a partir das 20h, no Espaço Sérgio Porto, no Humaitá. E agora deixo vocês com os "versos safados" do Mário, que eu adoro!

A MIM ME GUSTA LAS MUCHACHAS PUTANAS*

Dessas que chupam as bolas
que entram de sola
das que não tem meio termo
que abrem as pernas e não pedem arrego
dessas depiladas, peladas, liberadas
eu as quero desarmadas
de boca esporrada
Eu as quero do jeito que for
tocando bongô
com a boca no microfone
chamando meu nome
no meio da chuva
dessas que passam gel no cabelo
que a gente flagra no banco traseiro do carro
dessas que dizem os diabos
que agarram o seu pescoço
que sempre dão o troco
dessas com aros em forma de brinco
que sabem segurar um pinto
essas entendem o que eu sinto
essas sabem que eu não brinco
se entopem de vodka assistindo Mtvê
essas nunca vão chorar por você
não vão mentir pra você
não tem por que
não vão contar histórias
não vão dizer que você foi a melhor foda
não vão querer seu sangue, só o seu dinheiro
não vão querer flores, nem caixas de bombons
não te arrastam pra igreja
só se encharcam de cerveja
e se eu digo: pra mim chega.
elas guardam o batom e vão embora
nunca estão de calcinhas
quando descem as escadas
estão sempre dançando
mordendo
chegando de táxi a uma da manhã
elas não são puras, são putas
não querem o céu
não sabem quem é Nina Simone
não querem o meu número de telefone
paixão elas tiram de letra
encaram qualquer treta
com uma chave de boceta
Adoro essas putas loucas
caindo de boca
que nunca ouviram um blues
fazem chupeta e dão o cu
Eu as quero sujas
num beco escuro, atrás do muro
meu pau abrindo caminho
desprezando carinho
fissura de vinho
na segunda-feira
gozando na primeira
comendo pastel na feira
maquiadas
peladas
desbocadas
a mim me gusta
que se fodam as puras
que gozem as putas

* o poema é do livro "Para os inocentes que ficaram em casa", que é todo muito bom!

4.8.08

pra decorar no chuveiro ou escrever em portas de banheiro

de repente me veio a palavra banheiro
a amplitude que tem o termo
o quanto da minha vida se costurou no banheiro
tem gente que canta no chuveiro
às vezes eu canto
desafinado
mas no boxe, enquanto esfrego os cabelos,
me ensabôo, deixo a água correr pelo corpo
eu falo poemas recém decorados
esfrego até fixá-los na minha pele
torná-los parte do meu corpo
esse poema vem decorado com água quente,
shampoo pantene e sabonete lux
dá até pra sentir o cheirinho de banho tomado!...
mas o poema veio tarde na minha vida
o banheiro veio antes
vem lá do medo de criança
que acorda assustada de madrugada
com vontade de fazer xixi
o medo de atravessar o escuro do quarto
o silêncio da noite
a inexorável solidão da privada
às vezes eu dormia apertada
ou abria a porta, acendia a luz e acordava a casa
depois eu descobri que a solidão me era necessária
mesmo pra espantar os meus fantasmas
e era no banheiro, trancada, encolhida, que eu sempre chorava
também às vezes conversava com o espelho,
como se fosse ele o meu amigo imaginário
vez por outra ainda me pego conversando com o espelho
ou agachada no chão frio a trancar as lágrimas no banheiro
às vezes me encaro por horas e horas e horas
sem dizer uma palavra
e nesses momentos eu me digo tanto
que chego quase a me entender
aliás, banheiro também é lugar de prazer
foi trancada nele que eu aprendi a me conhecer
e me dei muitos orgasmos antes de compartilhá-los
(me dou sempre, quando tenho vontade)
e quando descobri o bom de compartilhar orgasmos
também compartilhei alguns banheiros
e eu vou contar um segredo:
até de ônibus interestadual!
quando é incontrolável a vontade de sexo,
olha em volta:
tem sempre um banheiro por perto
às vezes falta na hora do aperto
ou não tem papel
mas quem é safo sempre dá um jeito
agora o que dizer, pra quem gosta de ler, de literatura de banheiro?!
não sou muito de escrever nas portas
mas eu sempre leio
da fulaninha que ama fulaninho
à filosofia de banheiro, que é incrível!
é, porque tem gente que senta na privada
e se acha o próprio pensador
desculpa se o assunto não é apropriado
mas é parte da minha experiência com banheiros
e também já me rendeu boas risadas
agora banheiro, banheiro bom mesmo,
pra qualquer coisa,
não tem jeito,
é sempre o de casa.
e é nele que eu me tranco pra chorar poemas
decorar as lágrimas
quebrar às gargalhadas
acordar o espelho
vomitar ressacas
enxugar as mágoas
enxaguar orgasmos...
e quando eu quero,
eu sei que eu posso juntar tudo
e botar pra fora
na mesma
descarga