A incrível saga de São Luiz Gonzaga
para Marília Nunes, Gunnar Borges e Daniel Galvão
A inviável noite se anuncia
Sutilmente mentirosa com medo da triste apatia entediada
E Luiz Gonzaga
que não era santo nem nada
se escondia atrás do parque
Ai que Boa Vista esta
que não paro de perceber
sempre em círculos.
E quanto mais quadrados e retas procuro,
sempre me indicam:
Contorna! A vista é bela.
Sim, as saídas foram múltiplas.
Mas Luiz Gonzaga não compreendia
em sua busca existencial
qual era afinal,
afinal, qual era, meu deus?!
A ENTRADA!
Escondido atrás do parque, agachado, mãos na testa, como estava, meditava...
Meditava, outros dizem:
- Mendigava o Gonzaga... sempre em busca de migalhas do pão.
Na eterna fuga de sua imensa tristeza. Um sorriso, um consolo, uma desculpa. Um olhar.
Mas não, a Baronesa só tinha lágrimas, do outro lado o cão só ladra.
E Francisco Xavier, esse sim santo
enviou num cavalo branco
um fidalgo salvador
que trazia na cabeça a espada da concórdia
e nas mãos uma taça cheia de presentes dourados .
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Este era o cartão que Luiz, o Gonzaga, carregava no pescoço para o caso de um enfarto ou enfisema pulmonar.
Nunca se sabe quando as encruzilhadas viram rotatórias, os mendigos ricos, ou os escarros vêm do gozo.
Aí veio o Barão, um velho nobre podre de pobre que escarrava no chão e vivia a dizer indecências.
Chegou sem pedir licença, puxou uma cadeira e sentou perguntando (sem nem dizer bom dia): Rio?!
E riu...
Mas o sorriso é singelo, carismático, alegre. O Barão tem sua mesquita com um símbolo da suástica, uma virgem de burca transparente, um olhar translúcido em um dos olhos. Só num.
No outro... ninguém sabe como definir.
O outro é tão, tão...
Lacrimoso, eu diria. Mas era uma lágrima que nunca caía. Estava sempre lá, parada, na iminência de despencar. Mas não podia.
Ela sabia que caindo solitária levaria o corpo todo do Barão a desabar, e com ele o céu, o mar, toda a vida, tudo que no mundo há. Uma tristeza quase doce era o anúncio desse olho.
Então ele andava, andava, andava, por aí, a procurar rir pra não chorar.
Passo. Eu não vou conseguir.
É só emoção.
Eu não tenho o dom da palavra.
Não quero mais procurar. Não quero mais chorar...
Não quero sequer rir!
Quero sim é encontrar a concórdia, de mim... Desculpem, do Barão.
Do meu – entendam sempre dele, por favor. Do meu sim e do meu não. Do meu Santo ou nada. Do meu bi, tri, quadri... Multi qualquer coisa que seja farsa ou não.
Em um ano da minha vida, tenho tudo daquele ano, e nem consigo entender.
Como jogo fora, pra ninguém ver.
Nunca queimei, joguei fora mesmo.
Pra ninguém que eu perceba alguém ler.
Mas que besteira a minha!
Que ingenuidade besta meu deus?!
Se já me lêem nos olhos a alma, se já me lêem no corpo inteiro, nos dedos rasgando das toalhas das mesas de bar o molhado do suor dos copos...
Não, não, não são todos que sabem ler.
Há os analfabetos fundamentais, que nunca vêem uma letra de emoção. Um “a” de abelhinha zunindo no ouvido de uma criança que descobre o mundo.
Paro por aqui, porque quanto mais profundo se chega no Japão,
mas no Luiz Gonzaga a gente não chega não!
Beatriz Provasi, Bel Flaksman, Fernando Klipel e Taianã Mello (que após algumas garrafas seguiram um táxi e conseguiram enfim chegar na Rua São Luiz Gonzaga!!!)