22.1.13

w.o.


recebo a solidão
como um w.o.
num jogo que não nos deixa saída
a não ser aceitar a
vitória
- medalha espetada nos olhos -

21.1.13

sapos e outros bichos


já criei sapos inflamados no estômago
era um coaxar dia e noite q não me deixava dormir
- um inferno!
tive q engolir violentas doses de veneno para exterminá-los
queimou tudo por dentro,
um incêndio de grandes proporções,
uma verdadeira tragédia!
- deu no noticiário, cê não viu?
o coração ainda meio carbonizado
e um tanto de fumaça e pó e cinzas
massa reboco e vigas se enfiando nos olhos
não quero mais saber de sapos ou de outros bichos
gatos afiando as unhas na minha garganta,
nada disso.
tirei os cães da coleira, meu bem.
e se eles avançam,
devem ter seus motivos...

15.1.13

descrição precisa do q houve aquela noite


com Fernando Klipel & Franco Chiariello

I
o sol vermelho & os óculos escuros
& a velha bola de fogo dentro do peito
ratos entre os encanamentos da cidade
& as nossas danças de rua em ziguezague
devoramos migalhas de músicas
entre os zunidos dos carros
com voracidade
e os uivos largados nas encruzilhadas
e tudo q pulsa tum tum
e não pára tum
o espanto das estátuas de gelo
q não derretem no peito desses desgraçados
& as sirenes q anunciam
extintores de incêndio dentro de fuzis
com sua voz macabra tátátá
sintonizamos o rádio na estação errada
tzzzrvsktzzzvrovskzzzzzzzzzommm...

II
jardins japoneses e outros cânticos orientais
nossos pequenos mantras secretos
um tai-chi de bolso
para qualquer emergência.
a cidade tem lugares misteriosos
que só nós conhecemos
com nossas lentes de aumento
instaladas
no sistema nervoso central.
o velho funcionário,
como todo dia
– mas para nós pela primeira vez em toda a eternidade –,
destranca o cadeado, remove as correntes,
e escancara os pesados portões de ferro
do antigo cemitério.
sob os túmulos, alguém, como nós
já gritou estou vivo!
largamos o parque florido
de estátuas sagradas
em seu silêncio sepulcral
com outros gritos revirando a mente

III
todos os nossos planos mirabolantes geniais
atirados como milhos envenenados...
a praça amanhece subitamente tomada
por um tapete de pombos mortos
em sua beleza única de pombos mortos
cobrindo a imensidão de pedras portuguesas
de todas as praças de todas as cidades do mundo.
os galináceos metidos numa rede intrincada
de mandados judiciais de todos os tipos de
sociedades protetoras dos animais
& vegans esquizofrênicos & etc.
ciscam desorientados
num conto kafkiano jamais escrito.
facebooks de todo o mundo (uni-vos!)
engajados na nova luta da moda do momento
das janelas confortáveis de computadores de apartamentos
e os desabrigados das enchentes não perdoam
& os índios não esquecem
suas danças da chuva.
e lá se vão nossos artigos - sociológicos - de luxo
esboços de toda a nossa genialidade em guardanapos amassados
varridos com o lixo nosso de cada dia; oh god!
lampejos de visões proféticas
& novas leis eternas decretadas para o meio-fio
das quais ninguém jamais se lembraria após o meio-dia
como aquelas mensagens sinceras sagradas
decifradas de muros pichados
que ressurgem mais tarde
como borrões coloridos
nas paredes da memória
e nada mais q isso.

IV
a eternidade estava lá,
nós sabíamos.
como sábios jardineiros
colhem delicadezas & perfumes
e retiram pequenas pragas & ervas daninhas.
ou como o q nasce
– perfeito & impossível –
ao regar corpos
sobre colchões de mola.