acho que não tenho dado
27.5.13
assunto de grande relevância
acho que não tenho dado
a devida atenção
aos assuntos de grande relevância mundial
sequer nacional
nem mesmo aos casos de bairro
ou às importantes decisões
das reuniões de condomínio
outro dia, por exemplo,
decidia-se aqui
sobre a liberação de toldos
nas janelas dos apartamentos
o que sem dúvida poria o prédio
muito feio - visto de fora
mas em contrapartida
protegeria do sol
os menos afortunados
que lhe recebem a visita invasiva
pela assoalho da casa
devo me desculpar
por não ter me posicionado
a esse respeito
penso que Maiakovski
me representa na questão do sol
e também o reivindico
para falar do imposto de renda
e outros assuntos e outros autores
que não cito
por economia de versos
e certa modéstia
há coisas
de que posso tratar
por procuração
de você,
não.
18.5.13
Aquela velha mania de bagunçar o jogo quando penso que estou perdendo. De inventar todos os monstros que vão justificar meus medos. De chutar a bola na vidraça, e depois sair correndo, me escondendo atrás do riso. De ralar os joelhos. De falar mais que a boca. De soltar o coelho da gaiola, quando era só pra dar cenoura. De espernear quando não dói, só pra fazer cena. E rir bem alto quando começa a doer, e dizer que não tá doendo. E quando a dor arrebenta por dentro, se esconder no banheiro e chorar pro espelho, apenas. Aquela coisa de correr pelo mato pegando carrapato dos vira-latas da rua. De ter um formigueiro embaixo dos pés, e não parar quieta. De pegar resfriado na chuva. De pedir colo e chocolate quente. De dormir mais que as horas mortas de um relógio parado. De ter muita preguiça. E gostar de ouvir histórias. E guardá-las na memória. E sobretudo acreditar nelas. Eu já estou velha demais pra tudo isso. Então, por que eu ainda bagunço tudo? E por que eu ainda acredito?
17.5.13
daí o cara não quis afastar a mesa
pra não molhar a gente
a chuva não tem nada com isso
nem eu, nem ele
mas ele olhou pra minha cara
com meus brincos e batom
vermelho
olhou com um certo rancor
e disse “não”
e eu tive uma saudade pura
e quase ingênua
do “operário em construção”
por que certos “nãos” me
parecem
hoje
tão fora de lugar?
12.5.13
all night
os olhos borrados
batom
largado
em
alguma boca
rock and roll all night
risos, luzes, trovoadas,
solos
de guitarra
trafego
com alguma dificuldade
até
o balcão
-
mais uma dose.
gritos, cores, fumaça,
like a rolling stone
perdi
alguma coisa
em
algum lugar
não
canso de procurar
na
bolsa
como
um isqueiro
pro
cigarro tremendo entre os dedos
não
consigo achar
não
era o isqueiro
tremendo
de corpo inteiro
alguma
coisa em algum lugar
luzes
frias, corpos suados,
som
muito alto
leio
mensagens
na
porta do banheiro
como
se desvendasse enigmas da humanidade
-
inscrições antigas em cavernas pré-históricas -
ou
como se
-
pichação no meu muro -
o
recado fosse pra mim
e
já não sei ler
lavo
as mãos
as
luzes piscam
criando
momentos
de
escuro
eu
insistentemente
revirando
a bolsa
sem
me lembrar do que procurava
i
can’t get no satisfaction
eu
danço mais alto que a música
alguma
coisa em algum lugar
eu
danço mais alto, mais alto
não
consigo me lembrar
meu
riso mais alto
tudo
alto demais
na
bolsa não está
alguma
coisa, alguma coisa
eu
aqui, fora de mim
all
night
há
sempre alguma coisa
perdida
em algum lugar
em algum lugar
9.5.13
pra vc ler qdo chegar em casa...
se eu tivesse aceitado há 10 minutos
aquele acordo de ligar
quando a saudade
fosse insuportável
você teria recebido
há 10 minutos
uma ligação
mas não seria saudade
cara a cara com você
ali
é outra coisa
uma falta
você escavou em mim
um lugar
onde só você cabe
e agora eu me virando pra
aterrar esse buraco
cavando aqui pra tapar ali
enchendo as minhas unhas
vermelhas
de terra
quando podia encher de costas
das suas costas
mas deixo as suas costas
pra unhas mais católicas
eu sei sair de fininho
estalando os saltos
das minhas botas
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