1.2.14

#ocupacoração

Às vezes, o meu coração desocupado fica ali prostrado, estourando plástico bolha durante o dia inteiro. O coração desocupado, às vezes, se enche de pensamentos impróprios. Se pergunta, por exemplo, por onde andará aquele ocupante que saiu vandalizando tudo? E se lembra com certa saudade de cada cena de vandalismo, o fogo todo, as explosões, tudo lindo! E se esquece de lembrar que aquilo tudo devia doer. Talvez tenha doído um bocado. Mas um coração desocupado já não sente nada. Apenas fica ali, estourando plástico bolha, sem mais nem porquê. Sequer se dá ao trabalho de pensar que o plástico bolha não nasceu pra gente estourar. O plástico bolha foi feito para proteger objetos frágeis do contato com superfícies duras, para impedir quebras ou rachaduras. O coração devia se envolver inteiro em plástico bolha, quilômetros e quilômetros de plástico bolha para cada coração. E então, um coração desocupado só seria penetrado por outro coração desocupado, que viesse assim de mansinho, distraído, quem sem querer, estourando as bolinhas uma a uma com delicadeza nas mãos. É tudo muito delicado no contato de um coração com outro coração, são objetos frágeis. Há coisas que não podem ser vandalizadas. Ploct, ploct, me diz o plástico bolha. Devo considerar isso. É sempre bom ouvir um conselho de amigo.

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