15.8.14

DIÁRIO DE UMA EXTERMINADORA DE CÃES

hoje, andando pela rua,
chutei um cachorro morto.
mas foi apenas para me certificar
de que ele estava realmente
morto.

na ausência de latidos,
segui em frente
esboçando um sorriso:
- “menos um cão assassino no mundo!”

os cães são realmente cruéis
quando se trata de gatos.

um dia,
percebi que precisava fazer
alguma coisa boa
pelo mundo.
abracei a causa dos felinos.
os gatinhos só querem ser livres,
e são muito oprimidos.

quando vi um gato dilacerar
uma barata
achei justo.
e vi também
muito senso de justiça
em seu implacável extermínio
aos ratos.
são bichos nojentos,
que empesteiam o mundo!

mas havia ainda um empecilho:
os cães.
os gatos não podem com os cães.
os gatos precisam de mim
para lutar contra os cães.
pobres gatos!

me armei de porrete
e saí afundando os crânios
de todos os cães
que encontrava pelo caminho.

não gosto dessas cabeças caninas
jorrando sangue.
não tenho em mim um prazer assassino.
apenas descobri que os cães
representam o mal.
e para ser boa, estar do lado do bem,
é preciso exterminá-los,
só isso.

me tornei uma pessoa melhor.

se ouço um latido,
já estou lá a postos,
de porrete,
barra de ferro,
pronta para enfrentar
o inimigo.

alguns cães abanam os rabos
pensando que me enganam...
eu sei que a maldade está lá.

ser uma exterminadora de cães
é um bom modo de
mudar o mundo.

estou em paz
ouvindo o canto de um
passarinho.

mas..

o canto parou de repente.

o que estou fazendo
com esse lindo passarinho
entre os dentes?

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